Há cinco anos, o motorista de transporte escolar Leopoldo Piovesan Filho, 55 anos, aguarda na lista de espera por um rim. Ele relata que a desconfiança de que havia algo errado veio após uma caminhada no centro de Santa Maria:
–Eu estava subindo a Rua Tuiuti e ‘tomei’ um cansaço. Procurei um médico e disse que não estava legal. Achei que tinha problema de Próstata, mas o médico disse que era um problema renal e me falou para procurar outro médico. O especialista disse que eu estava em estágio avançado, que teria que fazer uma fístula no braço e daqui uns sete ou oito meses, hemodiálise. Na hora, fiquei impactado. Minha esposa estava comigo. Falei para o médico que se precisava fazer a fístula, devíamos fazer o quanto antes.
Na ocasião, ele foi informado que um dos rins não estava funcionando e outro fazia apenas 10% do função do órgão, que é filtrar o sangue para eliminar substâncias nocivas ao organismo. A causa seria o uso em excesso de medicação, muitas vezes, sem indicação médica. Desde então, além dos cuidados com a alimentação, o morador de Pinhal Grande faz uma viagem de 1h45min três vezes por semana para realizar hemodiálise em uma clinica de Santa Maria. A movimentação se inicia ainda na madrugada para que Leopoldo já esteja no município às 6h e permaneça até as 10h30min, quando termina a sessão.
–No começo, eu vinha com a minha esposa, porque era difícil. Eu tinha desmaios e passava mal. Agora, não. Consigo vir sozinho – relata.
Conforme a Central Estadual de Transplantes, atualmente, a lista de espera conta com 2.535 receptores ativos a espera de um transplante no Estado. A maior demanda é por rins, com 1.332 pessoas. Leopoldo faz parte deste índice e explica a importância da atualização dos dados no Sistema Nacional de Transplantes para permanecer na lista de receptores:
– Na primeira vez, fui em um hospital em Porto Alegre fazer um exame para entrar na fila de transplante. Eu tenho que manter cálcio, potássio, tudo em dia. A cada dois meses, ganho um papel e vou no Husm, que é via SUS, e se a cirurgia acontecer será lá. Faço o exame de sangue para eles saberem que está tudo bem e não me tirarem da fila de transplante. Porque se eu não comparecer, automaticamente saio da fila.
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Leopoldo está apto para receber o órgão a partir de doação inter vivo e em caso de morte encefálica. Com o apoio da esposa, filhos e demais familiares, ele aguarda ansiosamente pela convocação. A alta demanda por um rim no Rio Grande do Sul é analisada pelo coordenador da Central Estadual de Transplantes, Rafael Ramon da Rosa, que também justifica os índices:
– Eles ficam mais tempo em lista, porque mesmo aguardando um transplante, conseguem se manter fazendo a hemodiálise, que é um procedimento que substitui a função do rim. Outros órgãos como coração, pulmão e fígado se a pessoa não consegue, ela acaba morrendo na fila de espera. É por isso que a lista é maior na espera por um rim.
Por órgãos, veja o número de receptores ativos em lista de espera*
Coração – 10Córnea – 959Fígado – 156Pulmão – 69Rim – 1.332Pâncreas – 1Pâncreas + Rim – 4Fígado + Rim – 4Pulmão + Fígado – 0
Total – 2.535
Fonte: Central Estadual de Transplantes
*última atualização: 08/07/2022
Nota: A hemodiálise também é feita por pessoas com problemas renais que optaram por não fazer um transplante ou não são transplantáveis. O procedimento não é exclusivo para quem está na lista de espera pelo órgão.
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por Arianne Lima – [email protected]